¨Existem momentos na vida da gente, em que as palavras perdem o sentido ou parecem inúteis e, por mais que a gente pense em uma forma de emprega-las, elas parecem não servir. Então a gente não diz, apenas sente¨. Sigmund Freud.
Os acontecimentos do final de semana caracterizaram a decadência do futebol brasileiro, que não acontece apenas nos seus gramados mas, sobretudo, no comportamento dos torcedores.
O assalto a uma loja de um posto de combustível em Mossoró pelas organizadas do Santa Cruz, e em plena sede do Náutico a ameaça de alguns torcedores ao presidente do clube retratam essa realidade.
Na verdade o nosso esporte é um produto da formação cultural do país, onde os senhores da Casa Grande dominavam com o seu poder a sociedade da época, assim como os senhores dos casarões da cultura cafeeira e os caudilhos do pampa, todos com o sentimento de mando, onde a chibata valia muito mais do que um simples diálogo.
Essa cultura dominou o país por vários séculos, e ainda se encontra enraizada em alguns segmentos da nação. Como o futebol faz parte da sociedade brasileira, recebeu sem duvida a influência de tal formação, e o tratamento ditatorial que o Circo e a grande maioria de suas Federações estaduais adotam é o seu reflexo.
Por conta disso e do poder total de mando, os seus últimos três presidentes foram defenestrados dos cargos por corrupção.
Essa linha de conduta transformou o torcedor em um antigo escravo da senzala, e esse se submeteu as determinações do poder com passividade, sem nenhuma revolta que poderiam originar quilombos modernos. O torcedor é o consumidor, tornando-se importante para o desenvolvimento do esporte, pois esse é que determina a demanda e nunca foi ouvido a respeito do que acontece no segmento que escolheu para participar.
Nenhum dirigente lhe perguntou se estava satisfeito com a ocupação territorial das torcidas organizadas. Ninguém lhe perguntou sobre os transportes para irem aos estádios. Ninguém lhe perguntou se os acessos eram suficientes e os locais disponibilizados são compatíveis com a sua dignidade.
Tais fatos refletiram nos torcedores que preferiram abandonar aquilo que gostam, já que os donos da Casa Grande nunca lhe deram atenção devida, dando a preferência especial a um grupo organizado que tomou conta dos espaços do campo, e que através da violência inibem a presença do verdadeiro seguidor do futebol. Os senhores da chibata criaram os seus feitores, e esses saem na busca de seus escravos, provocando inclusive mortes.
Chegou o momento da libertação, criando as condições para que os bons voltem a frequentar os estádios de futebol, e para tal os dirigentes dos clubes não poderão subsidiar os profissionais que formam a sua tropa de choque, começando com uma distribuição melhor dos espaços em seus estádios, pois não existem proprietários cativos dos batentes das arquibancadas, com exceção dos associados que dão o suporte financeiro aos clubes, mas esses também são mal tratados, e principalmente quando pagam as suas mensalidades e o clientelismo é utilizado para atender a um determinado segmento.
Chegou a hora de salvar o bom torcedor do futebol para restaurar a credibilidade desse esporte, antes que entre em inanição.