Ao acompanharmos o futebol brasileiro de hoje, sempre olhamos pelo retrovisor do tempo para analisarmos o de ontem, assim como nos dirigimos para projetar o seu possível futuro.
O analista deve ter a ideia real do passado, acompanhar o presente e vislumbrar o que poderá acontecer na frente. Deve utilizar a máquina do tempo.
Obvio que o futebol não poderia ser um fato isolado no contexto do país. O praticado na época passada não tinha a cara de rico como o atual, mas a compensação era dada por bons jogos, especialmente pelos grandes craques.
O Brasil do passado não era rico como o de hoje, mas não tínhamos crianças nas ruas, moradores de ruas e tráfico de drogas, a corrupção não era uma palavra conhecida.
A educação tinha como base a escola pública, que era de primeira qualidade, e além de um ensino primoroso, formava os talentos esportivos.
Nos lembramos da década de sessenta em nossa Faculdade, quando 50% a 60% dos alunos eram provenientes dos colégios do estado, e nos duros vestibulares eram aprovados nas provas escritas e orais, com excelentes notas. Hoje se escreve xadrez com CH.
No Brasil rico de hoje os políticos são a atração das páginas policiais, e a escola pública tem uma única atração, a merenda escolar.
Quando o retrovisor do tempo nos mostra o ontem, vislumbramos pessoas sentadas nas portas das suas casas, em conversas com seus vizinhos. Hoje aqueles que podem se trancam em condomínios fechados, se isolam do mundo e andam de carros blindados. Os que não tem condições sofrem com a violência urbana, e que em muitos casos acabam no IML.
No futebol de ontem imperava a democracia. Os estádios recebiam bons públicos, com torcedores de clubes diferentes se acomodando juntos, sem a separação de camisas. Eram torcidas não organizadas e amadoras. Brigas quase não existiam, a não ser discussões pontuais.
No futebol de hoje, tal fato torna-se totalmente impossível, desde que as torcidas organizadas tomaram conta do pedaço, e expulsaram dos estádios os tradicionais torcedores. A violência impera.
No passado não muito remoto, existiam craques nos gramados, principalmente aqueles jogadores forjados em suas próprias regiões. Tínhamos Pelé e Garrinha em idos um pouco mais antigo, assim como em Pernambuco eram tantos que fica difícil de se mesurar.
Uma relação extensa que daria para a edição de um livro, mas para efeito comparação vamos anotar alguns nomes que ficaram marcados na história local desse esporte. Os gramados recebiam Bita, Nino, Lala, Ivan, Salomão, Fernando Santana, Luciano Veloso, Erb, Givanildo, Vadinho, Assis Paraíba, Roberto, Luiz Carlos, Amilton Rocha, Leonardo, Juninho e, tantos outros.
No passado jogávamos de igual para igual com os grandes clubes do Sudeste e Sul do Brasil. Hoje dificilmente conseguimos nos impor perante esses. Somos meros figurantes.
No Brasil a concentração de renda não era tão imoral como a de hoje, que tem em dois estados uma participação de quase 50% (São Paulo e Rio de Janeiro), e não era tão explicita como no futebol atual, que estabeleceu uma desigualdade nunca dantes acontecida.
Um país rico com uma distribuição de renda igual aos mais pobres da África, e com um futebol concentrado nas mãos de um pequeno grupo em detrimento da grande maioria.
São comparações vistas pelo retrovisor, e que podem servir para uma reavaliação do futebol brasileiro, pensando em seu futuro, que pelo andar da carruagem só a Deus pertence, pois se depender dos nossos homens nada teremos a comemorar.