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Escrito por José Joaquim

Por Cadú Doné 

Será que as narrativas em torno do futebol precisam sempre ser tão pobres? Será obrigatório resvalar no politicamente correto, naquele ufanismo rasteiro, forçado? Neste tipo de discurso há, ainda que de forma inconsciente, uma subestimação do espectador? Está o brasileiro imbuído do espirito redentor- pátria de chuteiras¨- que tem tomado conta das propagandas?

Há algum tempo pipocam determinadas criticas que versam sobre a faceta marqueteira de Tite.

¨Encantador de serpentes¨, segundo Lugano. Retórica e tom de pastor, lembram alguns. Não vejo problema, claro, quando personagens da bola, honestamente, capitalizam em cima de suas imagens- desde que não haja conflito de interesses. Sobretudo ao tratarmos de figuras completamente resolvidas financeiramente, e já famosas a ponto de algumas inserções a mais basicamente não agregarem na proliferação de popularidade, porém, a publicidade acaba não sendo mais do que um aumento de renda.

E nestes casos, despidos de necessidades de qualquer natureza, embora a legitimidade, a priori, permaneça, o zelo, de certa maneira, tecnicamente, haveria de crescer. Margem para manobra superior. Posição privilegiada, confortável para sugerir mudanças num texto- existem modos de fazê-lo, obvio, sem escorregar para o estrelismo, sem deixar de ser agradável, fácil...

Tite olha para a câmara e diz algo na linha ¨sabe o que acho da malandragem, da simulação? Falta de competência¨. Quem avisa que o atleta mais hábil do grupo dele é useiro e vezeiro do ¨cai-cai¨? Qual o melhor lateral esquerdo do mundo, no nosso vexame frente à Alemanha, mergulhou na área inimiga comicamente antes de o caldo entornar? Exemplos minúsculos, singelos se observarmos o todo. A vida, o futebol são caricaturais e ¨preto no branco¨ assim. Adenor.

Habilidosos, talentosos, guardiões de recursos infinitos apelam, pecam eticamente jogo sim e outro também. Humanos, demasiados humanos. A relação entre comportamento e capacidade técnica está a oceanos de distancia deste maniqueísmo tão simplório. Fala-se que, antes de um bom estrategista, Tite é excelente motivador.

Não é à toa, a série de anúncios nasce como uma ¨preleção aos brasileiros¨. Se este não era um exemplo atipicamente pouco inspirado do Adenor psicólogo, só não cravo que estamos lascados para a Copa pois, no fim do dia, tendo em vista o nível intelectual do público alvo- os jogadores-, nem sei qual seria o papo adequado para o convencimento... E sério que precisa?

É o que faz diferença? Considerando o grau de celebridade, riqueza, estrelismo, profissionalismo; os costumes- no sentido de já estarem condicionados, automatizados a ¨performar¨ como articularia nosso arauto- da plateia ouvinte, qual resultado se conseguiria obter com essa linha- se fosso maldoso, diria ladainha? Quais os limites?

Poderíamos abordar a aura demagoga de especial para crianças em fim de ano dos ¨treinos sem caneleiras¨, que causa espécie também- assim como outra das propagandas e algumas entrevistas- pela expressão histriônica, acompanhada daquele ¨olhar 43¨ um tanto barango e não menos edificante- é todo um conjunto: som, imagem, ar exalado e conteúdo em sintonia.

Tite é ótimo treinador e, que eu saiba, excelente pessoa, grande caráter. Merece indubitavelmente o cargo que ocupa. Estas reflexões feitas não possuem muita- ou qualquer- importância- e no fundo, entregam mais a respeito da sociedade, da publicidade (...); do quão tácitas, enraizadas já se encontram incontáveis tipos de enrolações, baboseiras, nas mais diversas searas (contaminadas, infantilizadas), do que sobre ele...

* O autor é jornalista da Rádio Itatiaia de Belo Horizonte, e filósofo.

Comentários   

0 #1 Demasiado humanoBeto Castro 31-05-2018 15:00
O futebol é um sensacional jogo de azar onde uma bola bate de pé em pé e eventualmente no peito ou na cabeça, desviando e derivando em uma miríade de sentidos randômicos e aleatórios. Nada mais do que isto. Na verdade, um conjunto de regras esportivas que atenuam as rusgas e rixas entre os humanos numa sociedade competitiva ao extremo e pouco cooperativa. Um apaziguador social que as vezes acalma e outras vezes aguça os ânimos de modo contumaz, em picos viciosos dos humanos imperfeitos. Não se pode exigir que um simples professor de atletas de múltiplas personalidades seja muito mais do que um reflexo deste conteúdo. A luta pela manutenção da vida é titânica e todos necessitam de um lugar no elenco deste teatro misterioso. Lugar, como afirma o próprio autor, condicionado e automatizado sem muitas expectativas outras. O futebol como uma "picola" faceta da humanidade, entre os seus autores é humano, demasiado humano - como o nosso competente e versátil treinador.
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