Nos bons tempos da escola brasileira, os alunos estudavam a história do Brasil, iniciando-se com a época da sua descoberta e colonização, quando os professores que ganhavam bem e respeitados ensinavam o sistema implantado em 1534 pelo rei de Portugal, D.João III, que dividiu o nosso território em Capitanias Hereditárias.
O sistema foi imposto para garantir a unidade do território nacional, que estava sempre ameaçado de invasões por corsários estrangeiros, principalmente os franceses, obrigando, assim, a coroa portuguesa a adotar uma política de ocupação, dividindo a colônia em Capitanias, que foram chamadas de hereditárias, desde que aqueles que as recebiam eram os seus ¨donatários¨, não poderiam vender as terras, mas repassa-las para os seus descendentes.
Esse introito é para mostrar que o futebol brasileiro recebeu essa influência e, na verdade tornou-se uma Capitania Hereditária em seus conceitos.
Os clubes não tem a menor transparência e só o seu Capitão-Mor tem o conhecimento real de sua situação. Não existe prestação de contas aos associados.
São entidades que na sua maioria são sempre dirigidas por pessoas do mesmo grupo e com um comando feudal. São gestões fechadas, portas blindadas, posto que dificilmente o Capitão do momento não aceita ouvir ideias dos outros que não sejam de sua mesa na casa colonial.
Os casos mais estranhos estão bem embutidos na Confederação e Federações, com um continuísmo exacerbado, que demanda dezenas de anos por causa dos seus sistemas eleitorais.
Os dirigentes são verdadeiros donatários de uma Capitania, que não prestam contas do que fazem e aqueles que poderiam modificar o sistema, por necessidade, sucumbem.
Quando passamos para as sucessões dos nossos clubes, os nomes que aparecem na maioria absoluta são os mesmos integrados ao sistema feudal, demonstrando que nessas capitanias não surgiu um novo habitante que possa trazer a sua colaboração, para torna-las como participantes de uma época mais moderna.
Se alguém apresenta ideias novas, o Capitão-Mor manda expulsa-lo de suas terras, sob as armas de seus soldados.
Enquanto o medievo domina, dezenas de clubes sofrem.
O nosso futebol vive de ilusões que são vendidas pelos ilusionistas, que não observam a sua decadência com os clubes endividados, sem projetos a longo prazo, e o maior exemplo dessa queda é formado pelo conjunto das diversas competições que são realizadas, sem a menor produtividade.
Enquanto isso o Capitão-Mor fica na varanda do seu sobrado colonial observando de longe os seus vassalos, como numa autêntica época do medievo, enquanto aquele que já foi o melhor futebol do mundo definha.
Na realidade esses donatários tem que entender que existem pessoas que pensam, e que já saíram do feudalismo há muitos anos, mas que encontram as muralhas guarnecidas por armas nas Capitanias, proibindo qualquer tentativa de ingresso de um novo pensamento.
Na verdade, os que vivem nas Capitanias se acovardaram com receio do seu comandante maior.