O futebol bem jogado aproxima uma equipe da vitória. E jogar bem o jogo em nada tem a ver com ter mais posse de bola do que o adversário, como muitos pensam. É possível marcar em bloco baixo, fechando os espaços do outro time, marcar gols em jogadas de transição e com isso jogar bem e vencer. Tudo isso com trinta por cento de posse por exemplo.
A discussão que se tem no Brasil hoje é que a qualidade de nosso jogo é ruim porque as equipes são reativas. Discordo enormemente. Nosso jogo é ruim porque não temos ideias. Isso porque para se fazer com excelência o que coloquei no parágrafo inicial é preciso muito treino: técnico, tático, físico e mental para fazer os jogadores comprarem esse plano de jogo e executa-lo com perfeição.
O que vejo muitas vezes no Brasil (há exceções, claro!) são equipes e treinadores aleatórios. Ou seja não há intencionalidade no jeito de jogar e o caos do jogo e a auto-organização natural da equipe ditará o que vai ser feito em campo. E sem um trabalho de qualidade por trás, evidentemente o jogo mais simples encontrado é dar a bola para o adversário, ficar esperando e tentar por algum acaso e se der, chegar lá na frente.
Vejo beleza e trabalho para operacionalizar uma marcação compacta, com coberturas, flutuações, equilíbrios e vários outros princípios defensivos. Executar bem isso não é simples. Também na transição é necessário ter ideias: basicamente quando você retoma a bola há duas opções: tirar da zona de pressão ou progredir rapidamente ao gol adversário. Como executar qualquer uma dessas possibilidades? Com qualidade no treino, com jogadores bem condicionados fisicamente, mas principalmente para tomar a melhor decisão. Em suma, é preciso bom trabalho.
O que quero aqui é refutar a ideia de que para jogar bem é necessário ter mais posse que o adversário e criar pelo menos vinte chances de gol.
O jogar bem é muito mais complexo que isso. Evidentemente que se você tem jogadores capazes e um ambiente propício para propor um futebol de apoios, triangulações, ultrapassagens e troca de posições, ótimo! Porem, sendo 'proativo' ou 'reativo' a questão é saber o que se quer e como fazer.
Ao deixar ao acaso, reclamando que não dá tempo para treinar, que no Brasil as viagens são longas, que o calendário é ruim e outras milhões de desculpas, continuaremos a ter jogos pobres, chatos e desinteressantes.
* Marcel Capretz é jornalista, apresentador da rádio 105-FM e do SBT Futebol Esporte Show.
Comentários
0#1RE: O PROBLEMA DO FUTEBOL BRASILEIRO É NÃO TER IDEIAS DE JOGO —
ANTONIO CORREIA11-05-2019 15:19
JJ: Um artigo bem interessante e que abre um espaço para um debate.
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