O futebol Nordestino vive a mesma saga que foi enfrentada por um dos ilustres personagens dessa região, o nosso jegue, que ajudou o seu desenvolvimento, principalmente nas cidades do interior.
O animal contemplado com a música de Luiz Gonzaga, e com estátuas em alguns locais, servia para tudo: do transporte ao plantio, e condutor de arados.
Um dia surgiram os tratores, os jipes modernos, e os serviços que eram executados por esse nobre animal, passaram a utilizar os novos equipamentos colocados à sua disposição.
Os jegues tornaram-se uma matéria-prima para uma indústria que exportava sua carne para o Japão. O mercado fechou e a empresa trocou de linha, passando para a avicultura.
Os descendentes desses animais agradeceram, mas passaram a viver abandonados, soltos nas ruas e praças públicas, inclusive sendo atropelados em algumas estradas.
O mesmo problema aconteceu com o futebol do Nordeste, quando os seus clubes tradicionais entraram em fase de declínio e perderam a representatividade, desde que não prepararam as suas gestões para os novos tempos, e continuaram usando os jegues, e as cadernetas das antigas vendas de bairros.
A maior comprovação do que estamos afirmando é sem duvida a Copa do Nordeste da próxima temporada, que caracteriza a decadência de um esporte que já teve seus dias de glorias em nosso país.
São vinte clube dos nove estados da Região, sendo que doze já estão classificados para a fase de grupos, e os oitos restantes jogarão uma preliminar em mata-mata, classificando-se quatro, que irão juntar-se aqueles já definidos.
Dessa etapa, apenas o Clube Náutico joga na Série B, um na C, CSA, enquanto Fluminense de Feira-BA, Codino-MA, Parnayba-PI, Globo e Itabaiana, disputaram a Série D na temporada, e um sem divisão o Treze-PB.
Dos 12 disputantes que já estão classificados e distribuídos entre os grupos (4 x 4), apenas dois jogam na Série A, Bahia e Vitória, o que representa 10% do total.
Da Série B, teremos quatro clubes: CRB, Ceará, Santa Cruz e ABC-RN.
Enquanto isso, a participação da Série C nessa fase, será de quatro equipes: Sampaio Corrêa, Botafogo-PB, Salgueiro e Confiança.
O Altos-PI disputou a Série D, e o Ferroviário-CE não pertence a nenhuma das divisões do Brasileiro.
Tais dados mostram que a Copa do Nordeste será uma competição que abrigará 11 clubes das divisões menores, (6 da D, 5 da C) e dois que sequer tem uma definida.
Tais participações representam 65% do total, o que determina a cara do futebol regional.
São dados como esses que deveriam servir de análise para todos os segmentos envolvidos com o futebol brasileiro, mas infelizmente os pensadores sumiram, e os que ficaram não conseguem vislumbrar os motivos e as causas da decadência.
Na realidade todos esses clubes tem algo em comum, a ausência de um planejamento, de uma visão estratégica das modificações que estavam acontecendo no cenário nacional. Não se prepararam para uma luta desigual, contra os tratores e jipes, preferindo o abandono como os dos nossos jegues.