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Escrito por José Joaquim

O artigo ¨Futebol Sem Berço¨ que foi postado no dia de ontem teve uma boa repercussão, e que nos motivou a dar uma continuidade da análise de um tema muito importante para o esporte da chuteira no Brasil.

O futebol brasileiro passa pelo mesmo processo de nossa educação, ambos na mesma sala de uma UTI hospitalar. Somos de uma geração que a base do ensinamento era nos chamados cursos primários.

Ali aprendíamos de tudo, e levávamos para o ginásio, pulando para o científico, e desse para a Universidade, cujo acesso era feito com provas escritas e orais.

A base era bem feita e servia para o resto da vida.

Hoje com raras exceções, a escola pública resumiu-se apenas a merenda escolar. Os professores não são bem remunerados.

Não vivem, sobrevivem.

Criaram um Enem em que a língua pátria é maltratada, com palavras como ¨trousse¨, e ¨Chadrez¨.

O futebol tem a sua similaridade, quando tinha o seu curso primário na várzea, que foi substituída pelas escolinhas, que nada ensinam e somente cobram para aulas de futebol, com professores que não conhecem nada sobre o esporte.

O jogador talentoso tornou-se uma peça rara, e por conta disso, retrocedemos no tempo e no espaço, quando o futebol de várzea projetava talentos, e dava-lhe a habilidade no trato com a bola.

Aprendiam de forma correta o ABC. A várzea ensinava os dribles, o chapéu, a lambreta, a condução da bola, e nada disso encontramos nos jovens futebolistas de hoje.

Os campos de bairros foram tragados pelo progresso desordenado, para darem lugar aos espigões que matam as cidades por asfixia, e com a gravidade da omissão do poder público com relação ao fato, que foram aprovando projetos e mais projetos, e esquecendo da necessidade da preservação das áreas de lazer.

Quantos campos de várzea formadores de talentos desapareceram?

Se fossemos enumerar, teríamos um verdadeiro livro. Sem a várzea o futebol ficou órfão.

As escolinhas dos clubes, e de campos particulares proliferaram, recebendo jovens que sonham com a carreira no futebol. Um grande engano, visto que esse modelo nada ensina, e são apenas meros instrumentos de captação de recursos para os clubes ou para os seus proprietários.

Muitas vezes um jovem passa anos pagando as suas mensalidades, sem nenhum progresso, e mostrando as suas poucas aptidões para esse esporte.

Os novos atletas pertencem aos empresários, e chegam aos clubes sem muitos ensinamentos, e serão sem duvida os próximos brucutus dos gramados.

O futebol brasileiro originou-se na várzea. Foi discriminado pela sociedade e até mesmo pela policia. Eram jogos com os mais velhos, mas os jovens começaram a participar, e divertiam-se jogando com bolas de meia e de papel.

Na várzea o jogador aprendia a ter criatividade, inventava jogadas e começava a tratar bem a bola. Os campos tinham buracos e isso os levavam ao aprendizado, não somente para driblar os adversários, como os acidentes encontrados nesses pedaços de terra que serviam para as partidas de futebol.

Fomos peladeiros e conhecemos de perto o sentimento da várzea. Não havia brigas nos jogos, e os responsáveis pela segurança eram os ¨donos¨ dos times.

Tivemos grandes clubes de várzea em nossa região metropolitana, que serviram como celeiro dos clubes pernambucanos.

Hoje para se jogar futebol tem que se matricular numa escolinha, enquanto a várzea era grátis, sem ônus, sendo a população carente a mais atingida, cujos pais não podem pagar para que um dos seus filhos tente ser um atleta de futebol.

Na realidade esse antigo modelo era o curso primário de um futebol que tornou-se o melhor do mundo, e hoje agoniza numa UTI.

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