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Escrito por José Joaquim

A sociedade brasileira ainda adora a cultura do salamaleque, herança do império. Observamos tal fato nas entrevistas que são realizadas com personagens importantes, quando as perguntas efetuadas tem um único sentido, o de não desagradar.

Essa cultura é disseminada, e isso observamos no futebol e em outros esportes, nas entrevistas coletivas que são realizadas com dirigentes, profissionais dos clubes ou outras pessoas envolvidas no segmento.

Um dos programas que tem uma dose de exagero de salamaleque é o Bola da Vez, da ESPN, onde o convidado é atendido com perguntas perfumadas, apesar do excelente mediador.

Nas coletivas no pós jogo existe um receio de se questionar os personagens. Quantas vezes sentimos o constrangimento quando uma pergunta mais profunda é realizada, levando aquele que está assim procedendo a fazer uma abertura cheia de salamaleques, quase pedindo desculpas pelo seu procedimento?

Na realidade, trata-se de um segmento que vive pressionado, desde que os dirigentes e profissionais detestam criticas, e quando uma pergunta sai do script preparado, a reação é imediata, chegando a intimidar quem ousou sair da linha programada. No final, quem ainda aguenta ouvir tais entrevistas, observa que foi uma festa de salamaleques, com gente saindo curvado de tanto se baixar perante os suseranos.

Por conta disso, as entrevistas perdem o conteúdo, e o dicionário do Aurélio é agredido. Na realidade essa gente só gosta de elogios e, do outro lado, os torcedores recebem uma carga de bobagens que não esclarecem os acontecimentos. Eles são divinos. Hoje não se escolhe os entrevistados, desde que esses são programados pelo marketing.

A vida de um jornalista esportivo não é fácil, desde que as pressões são grandes e ficam tolhidos de serem investigativos, e quando tentam são ameaçados.

Dirigente esportivo tem suas raízes na Casa Grande, com o chicote do feitor nas mãos, detestando confrontos. O jornalismo politico e econômico é bem diferente do esportivo, desde que as criticas são formuladas, o sistema investigativo funciona, e com isso tem mais audiência por conta das verdades.

O futebol brasileiro vive na Ilha da Fantasia. Falido, apequenado, e todos continuam felizes, não ousam criticar os cartolas, pois poderão encontrar pela frente um dirigente que baixará um ato proibindo as suas presenças no clube, ou então um outro que irá coopta-los, trazendo-os para o seu lado.

Falta ao futebol brasileiro um jornalismo que busque nas entranhas, que denuncie as mazelas, posto que somente assim esse esporte poderá sair do atoleiro em que se encontra.

Em tempos anteriores já tivemos um jornalismo livre, que enfrentava a todos com perguntas duras, éticas e pertinentes, e que deixavam os torcedores bem informados, contando com o suporte das editorias que tinham força para apoia-los.

Bons tempos que não voltam mais.

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