* Artigo escrito por Alberto Puig Ortoneda, ex-diretor das categorias de base do Barcelona.

Uma das perguntas mais debatidas e apaixonantes da formação esportiva, mais corretamente futebolística: se nasce com o talento ou se fabrica talento? É a boa metodologia que produz o talento no mundo do futebol, ou é a boa captação de talento que faz conseguir jogadores de qualidade em uma entidade esportiva?

Vamos por passos.

Sem as condições genéticas ótimas é evidente que é impossível um êxito esportivo na elite do futebol. Mas cuidado: não estou falando só de condições físicas, também, mas sim de coordenativas, sensoriais, emocionais e de conduta.

Sem o trabalho metodológico o nível de melhora pode retardar, e não ser em boa sintonia com o progresso crescente de qualquer jogador.

Então, nascer e fazer são complementares?

Evidentemente dentro de um âmbito de sequência de competição máxima de elite, assim é. Mas a partir de uma premissa que cabe destacar alguns aspectos chaves.

A busca e a incorporação do talento jovem é primordial e básico para um clube que pretenda que suas categorias de base sejam a pedra angular de sua estratégia presente e futura.

Se não há uma captação continua, compulsiva na busca de qualidade e acertada no perfil procurado, não vai haver êxito futuro. Essa não se realiza na mesa de um escritório, com dois coordenadores na frente.

Acontece, como se diz na gíria do futebol, ¨chutando campos¨. Quer dizer, observando continuamente no local que se encontra o talento, às vezes escondido, e conforme melhora e aumenta a experiência de quem observa.

Não se podem tomar decisões tão importantes como a seleção e a posterior contratação de um jogador sem os conhecimentos que aparecem na continua analise de jogadores. Que não sirva de desculpa a delegação de funções nem a escala hierárquica de uma organização.

Quem toma a última decisão tem que estar endossado do seu conhecimento com uma extensa experiência na busca de talentos de jovens do futebol em formação e de adultos do mundo profissional. Com o seu exemplo de trabalho de campo, não de escritório, melhorará uma estrutura técnica e olheiros e analistas.

Os amantes da tecnologia em sua versão mais acadêmica e quase doutoral, acreditam que do nada, com suas doutrinas, podem criar um talento.

Na minha opinião, um erro.

A boa metodologia faz melhorar as condições talentosas e faz dela potencialmente mais exitosas. Nunca a metodologia deve estar acima do talento. Toda a metodologia tem que estar baseada no princípio do jogo. Não em exercícios infinitos, tal qual mais bonitos, nos Power Points, com inúmeras flechas coloridas em todas as direções. Tudo tem que estar baseado no jogo, e no respeito da potencia talentosa do jovem jogador.

Então, poderíamos dizer que se nasce e se faz. Se nasce com algumas qualidades. Acontece nas idades primárias, com jogo e mais jogo em seu estado puro e livre. E se melhora e potencializa com uma boa metodologia.

E, no fim a qualidade humana e de conduta na vida e seus desafios fará que cada um cumpra ou não as suas metas. E todos as metas são importantes, já que os sonhos são os mesmos. Motor do nosso dia a dia.

NOTA DO BLOG- Estávamos relendo alguns artigos que temos em nossos arquivos, e por uma coincidência encontramos esse, que na verdade tem ensinamentos profundos, e que deveria ser lido por todos os profissionais que trabalham nas bases dos clubes.

Uma verdadeira aula.